terça-feira, 24 de julho de 2012

Fagundes Varela - A Flor do Maracujá


A FLOR DO MARACUJÁ

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!

Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!

Pelas tranças de mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas,
Que falam de Jeová!
Pela lança ensangüentada
Da flor do maracujá!

Por tudo o que o céu revela,
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!…
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em – á -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos, ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Manuel Bandeira - Macumba de Pai Zusé




Macumba de Pai Zusé

Na macumba do Encantado
Nego véio pai de santo faz mandinga
No palacete de Botafogo
Sangue de branca virou água
Foram vê estava morta!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fred Spada - Por uma poética do Picadeiro

POR UMA POÉTICA DO PICADEIRO [A Alexandre Faria]

A lágrima palhaça
retira da cara
sua única verdade:
a maquiagem
se esvai
e leva o sorriso insosso
com que a plateia
ri de si mesma
encarnada no Outro.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Glauco Matoso - Conto Domingueiro

CONTO DOMINGUEIRO [Soneto 438]

Contava o jornalista ao jornaleiro
dos podres dos políticos a lista.
Contava o jornaleiro ao jornalista
quem é, no quarteirão, mais fofoqueiro.

Na banca, em meio a fotos de traseiro,
manchetes dão: POLÍCIA NÃO TEM PISTA;
Enquanto se folheia uma revista,
os dois passam a limpo o galinheiro.

Um cego, bengalando, anda por perto.
"Aquele é que é fodido!", aponta o foca.
Já longe, mas de ouvido bem aberto,

o cego escuta os risos e a fofoca.
Consigo pensa: "Até que ele está certo...",
mas, lúcido, por ambos não se troca.