quinta-feira, 26 de abril de 2012

Paulo Leminski


elas quando vêm
elas quando vão
versos que nem
versos que não
nem quero fazer
se fazem por si
como se em vão
elas quando vão
elas quando vêm
poesia que sim
parecem que nem

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Edimilson de Almeida Pereira


O NO JARDIM DE SEO BIANO

O árvore glabro  monta lição de ossos: quando
o negra pássaro pousa é varanda.

Na presença  deles  o menino sabe o pião mas-
nunca o sapato que o  faz  parar.  Árvore verbi
nigra pássaro sobre o pião e  o menino rodador.

Se o  pássara  nigro  bandeia  o árvore varanda
com  vento só. O menino-pião  descobre  o ter-
reiro vazio a morte  nele:  e  o  carro  medonho
a caiar de fogo.

E a morte em guarda  escatungandém escatun-
gandém. A redonda voz da morte-mor.

E  o  menino infirmo na vó  lembrança do pássa-
ro glabro  em  árvore  negra  escapole à carniça
da  morte  mó. E  sabendo sua  graça  continua
menino. O que vai à festa maior.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Beto Lemos - As palavras me desarrumam

As palavras me desarrumam,
lançando na cama
as roupas do armário.

E quando me vejo,
estou nu. Sentando.

De frente ao espelho,
vendo a barbar rouba a face.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cacaso

Lero-Lero 

Sou brasileiro
de estatura mediana
gosto muito de fulana
mas sicrana é quem me quer
porque no amor
quem perde quase sempre ganha
veja só que coisa estranha
saia dessa se puder

Eu sou poeta
e não nego minha raça
faço verso por pirraça
e também por precisão
de pé quebrado
verso branco rima rica
negaceio dou a dica
tenho a minha solução

Não guardo mágoa
não blasfemo não pondero
não tolero lero-lero
devo nada pra ninguém
sou esforçado
minha vida levo a muque
do batente pro batuque
faço como me convém
 
Sou brasileiro
tatu-peba taturana
bom de bola ruim de grana
tabuada sei de cor
4 x 7
28 noves fora
ou a onça me devora
ou no fim vou rir melhor

Não entro em rifa
não adoço não tempero
não remarco o marco zero
se falei não volto atrás
por onde passo
deixo rastro deito fama
desarrumo toda trama
desacato satanás

Diz um ditado
natural da minha terra
bom cabrito é o que mais berra
onde canta o sabiá
desacredito
no azar da minha sina
tico-tico de rapina
ninguém leva o meu fubá

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Beto Lemos

Em meus ouvidos
dizia
voava, sorvia cada toque
em meus ouvidos

Iniciado
existia

hoje de manhã
possuia só
a memória.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Manuel Bandeira - Na boca, na boca

Na Boca, Na Boca

Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
e nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
e gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados

Dorinha meu amor...
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
                                                                                  [- Na boca! Na boca!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Oswald de Andrade


Erro de Português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

domingo, 1 de abril de 2012

Carlos Drummond de Andrade - Poema da Purificação


Poema da Purificação

Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.
As água ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.
Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.