terça-feira, 11 de junho de 2013

Beto Lemos - Um poema


Rio de todo o lamento.

O pensamento ocupa meu coração
Rua alagada por rio.

A face, imagem sincera,
A luz do sol reflete no rosto. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Paulo Leminski - Viver de noite

Viver de noite
Me fez senhor do fogo.
A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não.
Esse, eu mesmo carrego.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Beto Lemos - Beiral




Arrependimento


Coragem


Andam juntos

Como loucos abraçados
Como bêbados
Brigando pelo traçado reto.

Carreira certa.

Animo.
Salto.
Crawl.

“Espero que o Bidu não veja isto.”

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cacaso - Cinema Mudo

CINEMA MUDO

I

Um telegrama urgente
anuncia a bem amada
para o século vindouro.
Arfando diante do espelho
                           principio
a pentear os cabelos.
O oceano se banha nas próprias águas.

II

Acordei grávido e uma dúvida
dilacera minhas partes: quem seria a mãe
                          de meu filho?
Demônios graduados me visitam
enquanto retoco para a posteridade
a maquiagem do arco-íris.

III

Vejo seu retrato como seu eu
já tivesse morrido.
Grinaldas batem continência.
Livre na sua memória escolho a forma
que mais me convém: querubim
                       gaivotas blindadas
suave o tempo suspende a engrenagem.
Do outro lado do jardim já degusto
os inocentes grãos da demência.

IV

Neste retrato de noivado divulgamos
os nossos corpos solteiros.
Na hierarquia dos sexos, transparente,
                               escorrego
para o passado.
Na falta de quem nos olhe
vamos ficando perfeitos e belos
                   Tão belos e tão perfeitos
como a tarde quando pressente
as glândulas aéreas da noite.


Trago comigo um retrato
que me carrega com ele bem antes
de o possuir bem depois de o ter perdido.
Toda felicidade é memória e projeto.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Safo de Lesbo - A uma mulher amada

A uma mulher amada
 
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr
de veia em veia
por minha carne, ó suave bem-querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.

Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro ... eu tremo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Fagundes Varela - A Flor do Maracujá


A FLOR DO MARACUJÁ

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!

Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!

Pelas tranças de mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas,
Que falam de Jeová!
Pela lança ensangüentada
Da flor do maracujá!

Por tudo o que o céu revela,
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!…
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em – á -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos, ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Manuel Bandeira - Macumba de Pai Zusé




Macumba de Pai Zusé

Na macumba do Encantado
Nego véio pai de santo faz mandinga
No palacete de Botafogo
Sangue de branca virou água
Foram vê estava morta!